Olho no olho



Por teimosia, insistimos principalmente nas coisas que nos contrariam, mesmo sendo um dia calmo como o quartzo rosa que mantinha seu lugar sem presa na estante; e mesmo sendo o amor uma pedra rara difícil de lapidar com o tempo... cheiro.

As ruas continuavam apresadas. Cruzamentos de olhares e vontade de querer... querer o prazer da carne sem segredos, só riso. Nosso toque, arrepio. Vontade de rolar na grama e deixar nos envolver por pensamentos ainda verdes, mesmo depois da chuva onde as cores se tornam mais vivas e nosso olhar atrevido despe as intenções de beijos... coxas e seios.

Sempre nos mantemos trancados na vergonha do sentir. Passado a euforia da vermelhidão no rosto, fogo... em dois pontos o abraço aquecia palavras sem medidas e que calçavam perfeitamente o caminhar das dúvidas.

As sombras que em momentos eram uma, desenham na imensidão que transpassava os lençóis e pousavam no café da manhã. Sensações a varejo que eram despertadas com todo prazer, e nas impressões das mãos, o leve saber acontecer.

Por teimosia, apenas por teimosia observava a largura do sorriso e que mesmo com esse barco não conseguiria enxergar as margens que engoliam sua alma... que devagar, consumia nossos poros e suor.

Horas continuavam perdidas e descompassadas ao por do sol que compunha uma escada ao horizonte. A noite beijava devagar, línguas e corpo, todos os incômodos da casa.

- Silencio moreno.




Texto e ilustração: Harley Meireles


 

Verdes acordes

Nossos desejos proibidos se perdem por sorrisos distantes. Insisto por sonhar boca-a-boca... corpos verdes e perdidos, mãos que passeiam carregando vontades e suor moreno.

Permanece o gosto do agora esperando, quem sabe um futuro guardado no descaso do tempo. Sigo colecionando caminhos e pedras.

Costuro meu olhar na certeza, as verdades: abotoadas em calças jeans.
Colo vazio de histórias, suspiro sem cheiro.
Ilustração: Harley Meireles
(texto registrado na Biblioteca Nacional )

Tempestade

Segredos e silêncio passeiam por nossos olhares distantes. Não escolho o lado da cama nem o lençol em que navegaremos sem rumo ou mapas.

Nesse dia moreno corpos em único poro deslizam em cada gota de suor... desejos e suspiros: proa.

Um toque. Apenas um toque, é essa a saudade suicida. Entre as portas deste prazer alguma coisa representava o mar enquanto lá dentro nos afogamos em simplesmente viver no remanso desta tempestade inventada.
Ilustração: Harley Meireles
(fragmento do texto original - Registrado na BN)

Sorriso

Pode mudar o silêncio de lugar, as cores do peixe atrás do guarda roupa e limpar o tempo com a sua maciez de arame. Nosso suor está costurado nos lençóis como a alvura de histórias contadas.


Hoje clara morena, posso dizer que você não é mais minha. Troque esse sorriso inventado; seja aquilo que busca e nunca o sonhado.






Ilustração: Harley Meireles





Espelho


Olhos nos olhos
Boca a boca
As sombras
Se afastam de nós

Olhos nos olhos
Boca a boca
O melhor amigo
As melhores mentiras



Luz rouba
Minha forma livre
E o vento?

Olhos nos olhos
Boca a boca
Verdades assombram
A vida

Olhos por olhos
Boca na boca
Me separei do espelho
Para amigar-me com o tempo!

Ilustração: Harley Meireles

Olhar

Sob olhares da aliança do casal, cada parte deste moreno corpo desvendei e me perdi por detrás de cada beijo despreocupado. Nosso suor se espalha pelo lençol já sem cor mais uma vez. Televisão ligada, o telefone toca...
As dúvidas te levam em outras mãos o conforto, e o amor comete suicídio diário, como aquele sonho que ali permanece, silenciosamente no instante da sala ou em algum incômodo da casa. Os dias passam, e o arrepio vai ficando sem graça.






Ilustração: Harley Meireles


(fragmento do texto original - Registrado na BN)


Bolo moreno

A mesa ainda verde e pronta. Esse silêncio conhecido passeava por nossos olhares famintos de algo sem explicação; e que a distância nos unia em qualquer prazeroso cômodo da casa.

O recheio desafia... quem sabe nossos corpos – suor – unidos em simetria. Abraços, bocas e espelhos.

Mais um dia bate leve na janela de algum andar. A mesa permanecia ainda ali, pronta para também ser devorada, mesmo que fatiada ao decorrer de nossos desejos e texturas secretas.

As notas de alguma música desafinada fica guardada para quem sabe... um dia.


Ilustração: Harley Meireles
(fragmento do texto original)