Dia moreno

Existem aqueles dias em que se enrola para chegar em casa. Vontade de observar os movimentos do cotidiano, buscar no ritmo do silêncio a particularidade de se negar.

No âmago, talvez razões... incertezas. Não cabiam explicações se ao longe aqueles sonhos pousavam em outros tempos, e lá, o que se deixou buscar na terra o resolver.

Castelos construídos de sopros ao pé-do-ouvido. Cantava aquela dúvida afinada embalada na melodia da noite finita: nossos lúdicos medos.

Engraçado os moldes em que criados foram aqueles que se julgam homens. O esfregar das mãos transgredindo o efeito do nada acompanhando tudo que devagar cercava nossos rostos. E no ar, pairava toda aquela vontade abotoada no vento.

A suavidade riscava no ar seus contornos buscando sua pele morena. Lábio reduzido ao instante, não se podia ter a idéia do quanto o sabor em pleno beijo o êxtase. Cada um trazia seu castigo impar e suas novidades que até pouco tempo atrás eram verdades. Sempre uma nova moda rompia partes do corpo. Sempre uma nova esperança incomodava. Uma vida inteira acontecia nas primeiras páginas dos jornais, assim corria normalmente sob o nariz de todos, o que tudo parecia: giz.

Insistimos em manter um dialogo com a vida que esbanja desafiadora modéstia. A morte é apenas um obstáculo na fatalidade do descaso.

De surpresa como de costume, a chuva que brandara o dia pegou. (Tem mesmo destas coisas na terra da garoa.) A rua podia ser qualquer uma pois, todas eram parecidas. Cores mais vivas, rostos mais finos podiam ser qualquer, todos eram Aparecidas. Por nossas periferias, andavam calmamente toda essa beleza escondida na amizade, que nem sabemos ao certo se existe.

As ruas continuavam apressadas, a tortuosidade tinha a simetria perfeita de quem em um abraço amigo, cabia sempre uma lágrima sincera. E o gesto, nunca se repetia não por ser a lágrima sincera, e sim por ser amigo abraço o gesto em si.

Seus olhos eram fixos a um infinito desenhado de passado agora. Inocência que dosava paciência e cores ao cotidiano.



(fragmento do texto original)

ilustraçao: Harley Meireles



Um comentário:

  1. Moreno é cor e sabor... Muito interessante, por que gostei tanto??

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